Há dias ela tenta lembrar de alguma boa sensação que a faça emergir...
No rádio toca uma música e ela, imediatamente, é transportada para a sua frase de estimação: "O improvável um dia acontece"!
Ela está no parapeito da janela, a cerveja já está quente no copo, e eis que surge um brilho latente no olhar....
Ela levou um choque ao perceber que estava sentindo aquela sensação de 'pertencer' a alguém sem estar presa, e que isso podia ser inclusive perene, e ainda, que ela não precisava mais ter medo do tédio... Ela nunca ficaria entendiada ao lado dele, pelo menos não enquanto houvesse interesse mútuo e recíproco!
Então ela ajeitou-se no parapeito para que o choque não a tombasse do terceiro andar do Jupiá. Fechou os olhos, uma brisa vinha pela janela, e então ela recordou com carinho da história da primeira (e agora não mais única) vez que sentira essa sensação: Libertador e Aterrorizante (definiu em silêncio)!
Quando o coração elege não tem para onde correr...
Na mão um cigarro que ela segura com a mesma displicência que leva a vida.
Ela se vê no reflexo da janela do vizinho e tem um diálogo silencioso com ela mesma. Ela finge entender desse sentimento de 'pertencimento', mas a sua condição de turista é evidente, então, assustada, enxerga um letreiro em neon apontando para o 'caminho de volta'... "Já está tarde", diz a voz do reflexo... E ela sabe que dentre seus superpoderes não está o de escrever finais felizes...
Ao som de LOVE COMES TO EVERYONE.
Ela desceu do parapeito, apagou o cigarro no cinzeiro, tomou a cerveja em um gole só... Não existe nada mais libertador do que "pertencer" a alguém de livre, espontânea vontade, todos os sentidos e desejos... E é aterrorizante não poder viver isso...
P.S.: Ela pretendia apenas que ele soubesse que isso é amor!
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